Parem de gourmetizar o empreendedorismo.
Parem de gourmetizar o empreendedorismo
Esses dias passando aqui
pelo feed do LinkedIn, encontrei o post de um amigo e fundador de um projeto de
imenso sucesso, e isso me chamou muita atenção. Na realidade, o ponto de
atenção estava na imagem, que era ele palestrando em uma sala de aula – até ai
tudo bem, acho extraordinário levar bons exemplos e referências do mercado para
adolescentes que ainda especulam seus sonhos – mas o principal estava na
mensagem, onde ele contava que tinha ido conscientizar os jovens do ensino
médio sobre a importância de empreender.
Na era do excesso de
informação, do status, do ser, onde o “importante” é o número de seguidores nas
mídias socias, like nos posts, o cargo no cartão de visitas, no LinkedIn, o
stories sequencial de uma agenda tomada de reuniões intercaladas por foto de
café e macbook e mensagens motivacionais, estamos criando um estereótipo muito
distorcido do sucesso – pior que isso, estamos atribuindo ao empreendedorismo o
caminho para isso.
Ser “founder and CEO” é a
bola da vez, não precisa ter nem um cnpj, mas no Linkedin o sujeito já se
afirma um fundador e presidente de um projeto mirabolante. Pior ainda aqueles
casos das centenas de cursos e palestras a venda sobre lições de
empreendedorismo e receitas do sucesso, com uma pequena ressalva, nunca vejo
nesses “professores” e “mentores” o principal: uma bagagem real de uma jornada
empreendedora – não necessariamente de sucesso, porque o empreendedorismo da
vida real, na minha opinião, é essa jornada dura, ácida, corrosiva de embarcar
em um sonho, acreditar e dar duro por um projeto, passar perrengue financeiro,
lidar com gestão de pessoas, pivotar dia e noite seus projetos, ver o mercado
describilizar seu sonho, tomar doses diárias de verdade e resertar e fortalecer
sua resiliência. E não necessariamente vender sua startup unicórnio no final do
dia para algum fundo chinês.
E, na realidade, esta ai
meu incomodo. A versão gourmet e que é vendida do empreendedorismo não é real.
Meu desconforto vem da injustiça do caminho rápido e quase único possível para
o sucesso. As mídias sociais só contam o sucesso, reforçam esse conceito, então
as histórias de fracasso, que, infelizmente, representam a grande maioria, são
varridas para debaixo do tapete. E então apresentamos as novas gerações, que já
nascem tomadas por uma carga imensa de ansiedade, esse caminho do glamour,
dinheiro e poder do empreendedorismo.
Sou empreendedora e quero
ter muito mais amigos e colegas nessa jornada, não quero desmotivar ninguém,
pelo contrário, só quero que possamos desconstruir a ideia do glamour irreal de
empreender e entender que existem muitos outros caminhos para o sucesso. O
drive, na realidade, não deve ser criar sua empresa, e sim esse conjunto de
ações, motivações e sonhos que compõe nosso real propósito, e está tudo bem se
o seu sucesso for ser funcionário público, ou levar uma jornada intensa em uma
consultoria americana, ser um esportista profissional ou ser mãe, no final das
contas, sucesso é isso, é realização, e empreender deveria ser nossa coragem de
assumir, encarar e viver nossas próprias jornadas. Ai sim, vamos juntos empreender.
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Publicado por
Sócia e conselheira do LIDE FUTURO
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