Nota sobre Marcel Mauss e o ensaia sobre a Dádiva
NOTA SOBRE MARCEL MAUSS
E O ENSAIO SOBRE A DÁDIVA
RESUMO
Este
artigo analisa a obra clássica de M. Mauss, Ensaio sobre a dádiva, à luz de
desenvolvimentos recentes da Antropologia. Salienta como contribuição de Mauss
o entendimento da dimensão política da troca de dádivas, assim como a sugestão
de sua universalidade, posteriormente demonstrada por Lévi-Strauss,
constituir-se em princípio formal-abstrato, e não num fato empírico-concreto. A
partir desse princípio, avalia a tese segundo a qual a dádiva é fundamento de
toda sociabilidade e comunicação humanas, assim como sua presença e sua
diferente institucionalização em várias sociedades analisadas por Mauss,
capitalistas e nãocapitalistas.
PALAVRAS-CHAVE:
Marcel Mauss; teoria da troca; reciprocidade; hierarquia.
I. SOBRE
MARCEL MAUSS
O Ensaio sobre a dádiva, obra fundamental
de Marcel Mauss, é um marco no desenvolvimento da sociologia durkheimiana. Esse
desenvolvimento
é no sentido de uma Antropologia. Mauss avança, em relação a Durkheim, ao
aprofundar uma postura crítica em relação à filosofia, adotando
a etnografia, abrindo-se para as sociedades não-ocidentais e assumindo cada vez
mais a comparação. Talvez por isso mesmo, a obra de Mauss se caracterize pela
dispersão, como ele próprio reconhece1. Mauss interessava-se pelas
manifestações dos fenômenos humanos em quaisquer
tempo e espaço do planeta e sua obra aborda uma “variedade vertiginosa de
temas”, para usar uma expressão de Gomes Jr. (1999).
O Ensaio
sobre a dádiva reflete de modo evidente esses aspectos, presentes também em
outros trabalhos de Mauss. Inicia-se com menções a questões de língua
norueguesa antiga e posteriormente aborda as mais variadas formas de
organização social, de grupos e regiões os mais diversos – celtas, Índia,
China, Oceania, índios do noroeste americano.
A obra de
Mauss tem recebido a mais favorável aceitação por antropólogos contemporâneos
das mais diversas inclinações teóricas. Ela presta-se,
sem dúvida, a interpretações discrepantes, múltiplas e divergentes, dentro e
fora da Antropologia.. A inspiração de Mauss é aceita por sociólogos (de
G. Gurvitch a P. Bourdieu, passando pelo grupo que se autodenomina “de
vanguarda” do Collège de Sociologie – cf. JAMIN, 1992, p. 457), escritores ou
filósofos (R. Callois, G. Battaille, entre outros), historiadores (F. Braudel e
a escola dos Annales) ou mestres da Antropologia inglesa (A. R.
Radcliffe-Brown, E. E. Evans-Pritchard, R. Firth). A aceitação de Mauss é
geral: Guidieri (1984, p. 31) notou que Mauss recebe, de modo bastante
freqüente, tratamento “hagiográfico”.
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Autor:
Marcos
Lanna
Universidade Federal do Paraná
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