Migrações e fronteiras na Amazônia brasileira
MIGRAÇÕES E FRONTEIRAS NA AMAZÔNIA BRASILEIRA
RESUMO
Este
artigo busca sintetizar resultados de investigações recentes sobre a Amazônia.
Trata-se de historicizar a problemática no caso da Amazônia brasileira,
considerando o tema da fronteira nas relações construídas entre os atores
migrantes e autóctones na Amazônia Legal. Profundas mudanças estruturais
ocorreram na Amazônia onde novos atores tem hoje papel decisivo: a sociedade
civil organizada, os governos estaduais e a cooperação internacional. Tais
mudanças são percebidas segundo diversos interesses dominantes na escala
global, nacional e regional, gerando conflitos que dificultam a implementação
de políticas públicas adequadas. A ação do INCRA na Amazônia revela um
paradoxo: por mais que a ocupação humana daquela região fosse uma estratégia
dos governos militares, é na fase democrática recente que a reforma agrária
brasileira perde espaço para o agronegócio. A institucionalização de políticas
de proteção do meio ambiente se revela contraditória com as práticas de
proteção social que têm, na Amazônia, um foco de destaque num modelo de
agricultura que provoca inevitáveis consequências ambientais.
Palavras-chave: Migração; Fronteiras;
Amazônia Brasileira; Meio Ambiente; Agronegócio.
A
HISTÓRIA da Amazônia até os dias atuais, tem sido uma trajetória de
enfrentamentos fronteiriços e nestas fronteiras, a Amazônia tem sido,
paradoxalmente, vítima daquilo que ela tem de mais especial — sua magia, sua
exuberância e sua riqueza.
Não se
trata de uma queixa, nem de uma constatação simples: a Amazônia foi sempre mais
rentável e, por isso, mais útil economicamente à Metrópole no passado e hoje à
Federação, do que elas o tem sido para a região.
A
Amazônia foi no passado “um lugar com um bom estoque de índios” para servirem
de escravos, no dizer dos cronistas da época; uma fonte de lucros no período
das “drogas do sertão”, enriquecendo a Metrópole; ou ainda a maior produtora e
exportadora de borracha, tornando-se uma das regiões mais rentáveis do mundo,
numa certa fase.
Na
Segunda Guerra Mundial, fez um monumental esforço para produzir borracha para
as tropas e equipamentos dos Aliados. Mas é mais recentemente que ela tem sido
mais explorada: seja como fonte de ouro, como em Serra Pelada, que serviu para
pagar parte da dívida nacional, diamante no Igarapé Lage Terra Indígena Cinta
Larga, que enriqueceu seus traficantes, deixando na região apenas as belas
reproduções das fotografias que percorreram o mundo, mostrando a condição
subumana do trabalho dos homens e da exploração sexual das meninas no garimpo;
o preconceito e o conflito permanente entre indígenas e a população urbana de
Espigão D’Oeste e de Cacoal.
A
Amazônia serve como geradora de energia elétrica para exportar para outras
regiões do Brasil e para os grandes projetos, que a consomem a preços
subsidiados, enquanto o morador da região paga pela mesma energia um preço bem
mais elevado.
E, como
última fronteira econômica para a qual milhões de brasileiros têm acorrido
desde a década de 1970, com vistas a fugirem da persistente crise econômica do
país, buscando na Amazônia um destino melhor (o que, infelizmente, poucos
encontram).
E, se
poucos migrantes têm conseguido ascender socialmente no novo lugar de destino (a Amazônia), em compensação, devido à
histórica política de abandono das classes pobres pelo Estado brasileiro, a
região vem se convertendo desde as últimas décadas num espaço onde se registram
o conflito no campo, a miséria urbana e o desperdício de recursos naturais.
Embora
seja, talvez, a maior província mineral de todo o planeta e produza ferro e
outros minérios, ajudando o país a manter sua balança comercial, pouco se tem
beneficiado das exportações em geral, já que a maioria dos impostos não fica
retida na região.
O
primeiro europeu a pisar as terras amazônicas, o espanhol Vicente Pinzon (em
janeiro de 1500), percorreu a foz do Amazonas, conheceu a ilha de Marajó e
surpreendeu-se em ver que se tratava de uma das regiões mais intensamente
povoadas do mundo então conhecido.
Ficou
perplexo vendo a pororoca e maravilhado com as águas doces do mais extenso e
mais volumoso rio do mundo. Foi bem acolhido pelos índios da região. Mas,
apesar de fantástica, sua viagem marca o primeiro choque cultural e o primeiro
ato de violência contra os povos da Amazônia: Pinzon aprisiona índios e os leva
consigo para vender como escravos na Europa.
Os
primeiros conquistadores e colonizadores não se conformaram em ver aquela
terra, que lhes parecia ser o paraíso terrestre, ocupada por povos que julgavam
bárbaros, primitivos, rudes, preguiçosos e, possivelmente desprovidos de uma
alma!
Dos
primeiros séculos da colonização aos governantes, políticos e planejadores dos
dias atuais, a história da Amazônia tem sido o penoso registro de um enorme
esforço para modificar aquela realidade original. Trata-se de uma tentativa de
domesticar as pessoas e a natureza da região, moldando-os à visão, à
expectativa de exploração do homem de fora (estrangeiros no passado,
brasileiros e estrangeiros no presente).
A
história da Amazônia tem sido construída a partir de dois eixos norteadores,
mas conflitantes: de um lado, a visão paradisíaca criada pela magia dos mitos
da região e sobre a região; de outro, a violência cotidiana gestada pela
permanente exploração da natureza e desencadeada pelos preconceitos em relação
a ambos — pessoa e natureza.
Ao longo
de quatro séculos perdeu-se, gradativa, mas persistentemente, as identidades
originais dos povos e os referenciais da vida anterior, face aos sucessivos e
constantes choques culturais. Hoje, as pessoas da Amazônia procuram
reconstruir, sem cessar, uma nova identidade e uma nova forma de vida que lhe
possibilitem harmonizar uma nova cultura com a conservação da natureza, os
benefícios e o usufruto do progresso técnico e científico do mundo moderno.
No século
XX, os governantes, políticos e planejadores aproveitaram do espaço da Amazônia
para resolver os problemas das demais regiões do estado brasileiro.
O rápido
aumento de tensões sociais no nordeste brasileiro, causado pela negligência à
urgente e necessária reforma agrária, tornou-se ainda maior depois da
desastrosa seca, levando em 1970 a um acordo de estratégia geopolítica que
combinava programas de exploração da infraestrutura e econômicos na Amazônia
com um projeto de colonização para o assentamento de nordestinos sem-terra. A
região amazônica era vista como escape espacial para os conflitos sociais
não-solucionados. Novas terras na Amazônia foram colocadas à disposição, como a
chamada "alternativa para a reforma agrária" (Kohlhepp, 1979).
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Créditos
- Autora: Drª. Maria Conceição de Lacerda
Doutora e
Mestra em Antropologia pela Universidade de Salamanca, Espanha – USAL/ES
(2006/2014). Bacharelado e Licenciatura em História pela Universidade Federal
de Santa Catarina (1997). Trabalha como Assistente Pedagógico no Setor de
Regulação do Athenas Grupo Educacional com as Faculdades: FAP, FAMETA; UNIJIPA,
FSP e FAPAN, e é professora no Magistério Intercultural Tupi Mondé.
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