As origens da política brasileira de desenvolvimento regional: o caso da Superintendência da Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA)
As origens da política brasileira de desenvolvimento
regional: o caso da Superintendência da Valorização Econômica da Amazônia
(SPVEA)
Resumo
Na literatura econômica sobre planejamento regional no Brasil, não é incomum
apontar a Sudene, criada em 1959, como a primeira experiência brasileira de
planejamento regional. Argumentamos que a primazia cabe à Superintendência da
Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA) em
1953, muito embora sua criação não tenha resultado de um esforço planejado
desde o centro político para a periferia regional, como no caso da Sudene. Após
o término da Segunda Guerra Mundial, pairava sobre a Amazônia uma fase de
incertezas e expectativas acerca do futuro da
região. As lideranças políticas e econômicas da região veem na Assembleia
Nacional Constituinte de 1946 uma oportunidade para legislar a criação de
subsídios para a chamada valorização econômica da Amazônia. A aprovação do
artigo 199 e sua posterior regulamentação levariam à criação da
Superintendência da Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA) em
1953. Ela buscou, através de suas estratégias de planejamento contidas
inicialmente no Plano de Emergência (1954) e, posteriormente, no Primeiro Plano
Quinquenal (1955-1960), aplicar recursos em setores considerados prioritários,
de Saúde a Transportes e Comunicações, com
resultados desiguais sobre a Amazônia Ocidental e Oriental.
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Introdução
Os antecedentes da criação da Superintendência para Valorização
Econômica da Amazônia (SPVEA) estão associados ao longo processo de crise da
Economia Extrativa da Borracha (1912-1942). No início do século XIX, a borracha
amazônica começou a ser exportada para os Estados Unidos, mas seu uso era
limitado por ser pegajosa no calor e muito rígida no inverno. O problema foi
solucionado somente em 1839 com a descoberta do processo de vulcanização,
realizado por Charles Goodyear. O auge das exportações ocorreu no final do século
XIX, lastreadas pela oferta monopolista e pela demanda proveniente das
transformações técnicas e científicas operadas pela Segunda Revolução
Industrial, em particular na indústria automobilística. Sua crise teve origem
na concorrência de exportações asiáticas empreendidas pelo capital
inglês no início do século XX, ao produzir látex em abundante quantidade e
com custos de produção inferiores aos custos de extração amazônicos.
Com estopim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a situação se
altera na região. No início de 1942, quando o conflito mundial se estende aos
Oceanos Índico e Pacífico, os japoneses apoderam-se de 97% da região
produtiva da Malásia e as fontes produtoras do Sudoeste Asiático passaram ao
controle dos países do Eixo, levando as potências Aliadas a voltarem seus olhos
para a Borracha da Amazônia. Como consequência, o fornecimento de borracha foi
elemento central dos Acordos de Cooperação Econômica assinados entre o Brasil e
Estados Unidos, denominados “Acordos de Washington”, iniciando-se imediatamente
o que se chamou na época de “A Batalha da Borracha”, cuja operacionalização
envolveu o deslocamento massivo de homens para os seringais, denominados de
“Soldados da Borracha” para a Amazônia.
Terminado o conflito, a possibilidade de regressão ao cenário de
estagnação regional era latente. Nesse contexto, as lideranças políticas e
econômicas da região dos Estados do Amazonas e Pará, veem na Assembleia
Nacional Constituinte de 1946, uma oportunidade de perenizar recursos do
Orçamento da União para a região. Articuladas com outras bancadas, essas
lideranças conseguem a aprovação do Artigo 199, o qual determina a aplicação de
3% da Renda Tributária Nacional para inversões visando à Valorização Econômica
da Amazônia. A aprovação do artigo 199 e sua posterior regulamentação culminam
com a criação da superintendência da Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA)
em 1953.
Pretendemos mostrar nesse artigo que a SPVEA, como primeira
experiência nacional de política de desenvolvimento regional, não surge de um
projeto nacional para a Amazônia, mas de uma conjuntura política interna (a
Assembleia Nacional Constituinte de 1946) que abria espaço para demandas de
apoio ao desenvolvimento regional oriundas das regiões e não de um esforço de
planejamento central. Ressalte-se também que na literatura econômica sobre o
planejamento regional no Brasil, não é incomum apontar a Sudene, criada em
1959, como primeira experiência brasileira de planejamento regional, cuja
primeira protagonista na realidade foi a SPVEA, criada em 1953.
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