A distinção entre conhecer e pensar em Hannah Arendt e sua relevância para a educação

 

Resumo
A educação, preocupada principalmente com a aquisição de competências e/ou a transmissão de conhecimentos, tem dado pouca atenção para a compreensão do mundo – isto é, um modo de pensar que não tem como objetivo primeiro a resolução de problemas.

Para entender melhor a relevância dessa questão, recorremos à distinção que Hannah Arendt traça entre o pensar e o conhecer. A abordagem da autora sobre essas atividades do espírito foi desencadeada pelo processo de Eichmann em Jerusalém.

Na ocasião, ela observa que o réu foi capaz de coordenar a deportação dos judeus para os campos de concentração, mas era incapaz de refletir sobre o significado de seus atos. Depois, em sua obra A vida do espírito, ela veio a constatar que conhecimento e pensamento são duas faculdades distintas.

O conhecer diz respeito à busca da verdade. Os conhecimentos possuem uma validade geral e uma utilidade. A atividade cognitiva, no entanto, mostra-se limitada por ser incapaz de atribuir um significado à nossa relação com o mundo.

A busca de sentido é específica do pensamento, a reflexão sobre as experiências, cujos “resultados”, porém, são “fugidios” e, muitas vezes, julgados inúteis. Este artigo, contudo, sustenta que o pensar, enquanto busca de sentido, é essencial para uma educação que, além de possibilitar um saber e um saber fazer, pretende contribuir para que os jovens estabeleçam uma relação de sentido e de pertença com o mundo humano.

Palavras-chave
Filosofia da educação — Hannah Arendt — Pensamento — Conhecimento.

Numa sociedade em que conhecimento e tecnologia ganham cada vez mais importância e o repertório de competências e saberes necessários para a vida cotidiana e para a competição no mercado de trabalho sofre constantes renovações, há uma preocupação crescente por parte da escola em acompanhar o que se denomina de progresso científico e tecnológico.

Como os conhecimentos da geração mais velha se mostram em parte obsoletos, muitas vezes chega-se à conclusão de que eles têm pouco a oferecer num mundo em constante mudança.

Desse modo, os professores perderam o papel de quem apresenta aos mais jovens um universo de cultura e saberes para se transformarem em auxiliares dos alunos na corrida dos novos conhecimentos e tecnologias. Nesse quadro, a educação visa um futuro desconhecido e, seja qual for a sua contribuição, seu trabalho sempre será insuficiente ante as novas demandas.


Em contraposição a essa visão, a filósofa e pensadora do político Hannah Arendt sustenta que a educação, em princípio, se volta para o passado, porque nela introduzimos os mais novos num mundo que os antecede e que é mais velho do que eles. As crianças precisam conhecer e se apropriar do legado que lhes será entregue.


Segundo a autora, esse mundo e as formas de nele viver e de agir não se resumem às preocupações ligadas ao desenvolvimento de instrumentos, métodos ou técnicas para satisfazer da melhor forma as nossas necessidades e desejos, sejam eles de ordem individual ou coletiva.


É verdade que os homens, assim como todos os seres vivos, precisam cuidar das suas necessidades para sobreviver e, para tanto, trabalham e consomem os produtos do trabalho.

Também é necessário que construam um espaço – composto por artefatos como, por exemplo, cadeiras e mesas, casas e ruas – que lhes garanta um lugar seguro e duradouro, no meio do incessante ritmo de produção e consumo e de uma natureza na qual tudo surge e desaparece constantemente.

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