Igreja da Natividade passa pelas maiores obras em séculos.
BELÉM, Cisjordânia - Quando os visitantes chegarem a Belém neste fim de ano, vão notar uma face diferente da Igreja da Natividade. Envolta em andaimes, a basílica situada no local tradicional do nascimento de Jesus está passando por uma necessária reforma, possivelmente as maiores em 600 anos. Especialistas dizem que a água está vazando do telhado e ameaça causar sérios danos a mosaicos e outros itens de valor inestimável.
Segundo o gerente do projeto, Afif Tweme, a primeira fase da obra começou em setembro e está tratando dos problemas mais prementes: telhado e janelas.
- A água também tem efeito negativo sobre as superfícies de reboco, os mosaicos, o piso e os afrescos. Isso pode danificar algum artigo histórico dentro da igreja - explicou Tweme, funcionário do Grupo de Desenvolvimento Comunitário, uma empresa palestina de consultoria em engenharia.
As empresas que realizam as obras são obrigadas a minimizar quaisquer transtornos para os visitantes e se certificar de que os peregrinos podem “passar livremente e com segurança dentro da igreja” - uma das mais visitadas e um dos locais mais santos do cristianismo. Erguida sobre a gruta onde, segundo a tradição, Jesus nasceu, a igreja atraiu mais de 2 milhões de visitantes no ano passado. Mas o prédio, com resquícios de até 1.500 anos de idade, tem sido negligenciado por décadas.
O Fundo para Monumentos do Mundo, uma ONG radicada nos EUA e dedicada a proteger sítios históricos, e a agência cultural das Nações Unidas (Unesco) já colocaram a igreja em suas listas de locais ameaçados de extinção. E uma pesquisa feita em 2011 por um consórcio de especialistas italianos determinou a necessidade de reparos urgentes.
A cidade de Belém está numa parte da Cisjordânia onde os palestinos têm autonomia. A Autoridade Nacional Palestina (ANP) assumiu a liderança da empreitada e está financiando uma grande parte das obras, segundo Ziad al-Bandak, assessor para assuntos cristãos do presidente palestino, Mahmoud Abbas.
Ele disse que o governo liberou US$ 1 milhão e outros US$ 800 mil estão chegando do setor privado. Outras doações de países europeus como França, Hungria, Rússia e Grécia estão se somando para atingir os cerca de US$ 3 milhões necessários para completar a primeira fase da reforma.
Briga de irmãos
Além do meticuloso processo de preservação de um local sagrado e delicado, o trabalho tem sido complicado pelas relações sensíveis entre as três denominações cristãs que compartilham a propriedade da basílica: a Igreja Católica Romana, a Igreja Grega Ortodoxa e a Igreja Armênia tradicionalmente se veem com profunda suspeição. São elas que administram o complexo da Natividade, conforme um decreto do século 19 conhecido como Status Quo. O documento atribui responsabilidades para a manutenção que são zelosamente observadas por cada denominação. Mas as relações são tão tensas que já acabaram em socos e pontapés entre clérigos.
Um alto oficial da igreja conta que as três vertentes nunca conseguiram chegar a consenso algum por conta própria. Mas uma vez que a ANP interferiu, todas foram obrigadas a aceitar sua decisão.
A primeira fase, prevista para durar um ano, está sendo realizada pela firma italiana Piacenti, especializada na renovação de locais históricos. Os especialistas irão reparar as centenas de vigas de madeira no teto uma por uma. Segundo o presidente da empresa, Giammarco Piacenti, a cobertura fora completamente restaurada por carpinteiros de Veneza em 1478: dessa vez, o projeto será conservador e tentará manter tantas peças originais quanto possível.
- Nós vamos salvar muitas partes, até aquelas em más condições. Vamos substituir somente partes que já não são funcionais, incapaz de sustentar o telhado. Elas serão as menores possíveis, feitas de madeira compatível, envelhecida, do mesmo tipo e qualidade - explicou.
Além do telhado e das janelas, outros pontos que necessitarão reparos no futuro são a fachada externa, o reboco interno, os mosaicos das paredes, pinturas e obras de madeira. E, segundo Tweme, se o financiamento for garantido, todo o trabalho poderia levar de quatro a cinco anos para ser concluído.
A igreja foi construída por Santa Helena, no século 4, sobre uma caverna onde a Virgem Maria disse ter dado a luz. O que ver os peregrinos veem hoje é a basílica construída pelo imperador bizantino Justiniano I, que governou dos anos 527 a 565.
A construção não inclui a área que é o foco principal da peregrinação: o local localizado sob a cripta do altar onde está a marcação daquele que seria o lugar exato onde Jesus nasceu, marcado por uma estrela de prata com 14 pontas.
Apesar do grande andaime que reveste os lados próximo à entrada, os visitantes parecem não se importar, pelo menos por enquanto. A irmã Aziza, uma freira eritreia que vive em Israel, comemorou o que ela diz que é uma obra bastante necessária.
- Estou muito agradecida e muito feliz por eles estarem renovando tudo ou a igreja vai cair - disse ela. - Também ficará mais seguro para as pessoas e os peregrinos. É um passo bem dado que tenham concordado em reformar; eu esperei isso por muitos anos.
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