Dentista brasileiro luta para salvar as ‘crianças bruxas’ caçadas na Nigéria

Marcelo Quintela, de Santos (SP), criou instituição para realizar missões.
Centenas de voluntários participam dos projetos sociais feitos pelo dentista.
Marcelo Quintela já foi quatro vezes à África para ações sociais (foto: Arquivo Pessoal / Marcelo Quintela)
Marcelo Quintela já foi quatro vezes à África para ações sociais (foto: Arquivo Pessoal / Marcelo Quintela)
Anna Gabriela Ribeiro, no G1
Um dentista de Santos, no litoral de São Paulo, já atravessou o oceano quatro vezes para salvar crianças consideradas ‘bruxas’ na Nigéria. Marcelo Quintela, que acumula o trabalho de agente humanitário, preside uma instituição que se engaja em projetos sociais na África, na Baixada Santista e no Nordeste do Brasil, reunindo centenas de voluntários que dedicam parte de suas rotinas para lutar por vidas mais justas e com melhores perspectivas.
Recentemente, um grupo de cerca de 20 voluntários voltou da Nigéria, onde realizava um trabalho que resgatava crianças classificadas como bruxas. Segundo Quintela, estes sacerdotes falam para os pais que as crianças são bruxas, por qualquer motivo, como alguma convulsão, febre ou até mesmo se for uma criança desobediente. Desta forma, os pais, pagam uma quantia e entregam os filhos à estes sacerdotes para que eles curem a criança. “Estamos na Nigéria desde 2010. Éramos andarilhos, resgatando crianças que estavam sequestradas por sacerdotes, que as mantinham amarradas, presas em galpões. A gente recebia as denúncias e íamos atrás delas. As crianças eram consideradas bruxas, por isso entregues à esses sacerdotes, para que eles cuidassem delas e tirassem o espírito mal delas, mas é tudo porque o cara ganha dinheiro dos pais das crianças, que são supersticiosos e acreditam no que as pessoas falam.  Eles não matam, mas amarram às árvores para que morram. Ir para lá é perigoso, mas os brasileiros conseguem a penetração lá. Só por sermos brasileiros somos muito respeitados. A África ama o Brasil”, conta Quintela.
Insituto Religar inclui outros projetos (foto: Arquivo Pessoal / Marcelo Quintela)
Insituto Religar inclui outros projetos
(foto: Arquivo Pessoal / Marcelo Quintela)
Quintela conta que começou a se engajar com causas sociais quando tinha 12 anos de idade. “Eu presidia a juventude presbiteriana em Santos. Nós saiamos às ruas para atender moradores de rua, fazíamos sopão da madrugada, fazia incursões ao Dique Sambaiatuba, em São Vicente. Lá eu tive os primeiros choques de realidade. Apesar de ser morador de um bairro pobre, na área do Mercado Municipal, na Vila Mathias, eu nunca tinha entrado em um lugar tão miserável com casas em palafitas. Lembro que passei a ter muita afinidade com famílias, me envolvi com coração mesmo. Hoje temos ações na Nigéria, Senegal, Vila Gilda e Sertão do Nordeste. Não escolhemos esses lugares, temos o principio de ir para onde ninguém quer ir. Mas esses lugares apareceram”, relata.
No sertão do Pernambuco, o grupo luta por uma solução para a seca. “A SOS Religar trabalha contra a seca no sertão do Pernambuco, considerada a maior seca dos últimos 60 anos. Por que o Brasil não resolveu o sertão? Por que tem dinheiro mas não resolvem essa questão? Lógico que eu descobri as questões políticas relacionadas a isso. Fiquei muito inconformado. Mas vamos fazer a nossa parte, mesmo que seja pequena. Nossa pequena ajuda já alcança 300 famílias, porque abrimos quatro poços, que dão água para sempre para elas. Um engenheiro agrícola voluntário faz isso, são todos técnicos voluntários. O chão era como areia de praia. Não achava que fosse possível nascer algo, mas quando irriga com a água do poço, nasce rápido. Com R$ 5 mil abrimos um poço, então o problema do sertão já era para ser resolvido”, diz.
Na região da Baixada Santista, o trabalho se concentra nos Dique Sambaiatuba, Vila Gilda e Vila Telma. “No dique nós transformamos a vida da família, profissionalizando quem não tem capacitação, dando uniforme para a criança, viabilizamos transporte para que ela vá até a escola. Não queria fazer melhorias no dique, não quero melhorar o que não era nem para existir. Isso significa aceitar que se perpetue um tipo de moradia que não era para existir. Para o dique não vai mudar nada, para as famílias vai mudar tudo. Queremos mudar, por o menino para um curso técnico, fazer com que o jovem faça o Enem e consiga a bolsa na faculdade”, explica Marcelo.
Para ser um voluntário do Instituto Religar, é preciso preencher uma ficha no site para descobrir em qual projeto a pessoa se enquadra melhor. Marcelo afirma que muitas pessoas ainda questionam porque ele se dedica tanto à estas causas. “As pessoas precisam fortalecer o espírito para fazer o que fazem pelo próximo. Fazer o bem é contra a correnteza. As pessoas não querem sair de sua zona de conforto, por isso eu prezo tanto o voluntariado. As pessoas perguntam o que eu ganho com isso. Eu ganho sentido para vida. Não sou ortodentista mais do que sou hoje um agente humanitário”, diz.
Cerca de 20 voluntários vão para a Nigéria (foto: Arquivo Pessoal / Marcelo Quintela)
Cerca de 20 voluntários vão para a Nigéria (foto: Arquivo Pessoal / Marcelo Quintela)
Livro
Marcelo Quintela escreveu um livro que relata as histórias vividas na Nigéria, no trabalho de resgate das crianças-bruxas. O diário traz diversas fotos e depoimentos. Os recursos obtidos com as vendas serão destinados aos projetos desta missão.  O lançamento do livro “Missão Salvar Crianças Bruxas” será lançado no dia 7 de dezembro, na livraria Realejo, que fica na avenida Marechal Deodoro, nº 2, em Santos.

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