O caciquismo protestante como a vanguarda do atraso

Quando o Protestantismo de Missão chegou ao Brasil, em meados do século dezenove, esse era um país onde os escravos, os indígenas, as mulheres, os não-católicos romanos e os brancos pobres eram excluídos da cidadania, em um Estado Patrimonial (Faoro) dominado pelo latifúndio, onde não havia regras isonômicas e o público era privatizado pelos “donos do poder”.
O quadro não sofre alterações substanciais com a Abolição e a República. Um longo e penoso processo, que tem um dos seus pontos altos a Constituição Federal de 1988, vem conduzindo o País a um Estado de Direito. No século dezenove as marcas da institucionalização pioneira estavam com as denominações protestantes diante de um Estado de “coronéis”, com o poder personalizado.
Hoje o Estado se des-personaliza em favor da institucionalização, e a Igreja, anda para trás, se des-institucionalizando, com o poder cada vez mais personalizado, nas mãos de caciques e coronéis, apelidados de apóstolos, bispos, pastores-presidentes e missionários, com o chefe acima da lei, inclusive com o crescente surgimento de monarquias hereditárias e “famílias reais”, em que o líder é substituído por um filho ou um genro.
Maurice Duverger, o notável cientista político francês contemporâneo nos ensina que ou o Poder evolui do estágio Personalizado para o estado Institucionalizado, ou involui do Poder Institucionalizado para o Personalizado. Ou as instituições, seus objetivos, suas regras, suas normas, são claras, iguais para todos e acatadas por todos, ou elas são frágeis arranjos à mercê do humor dos poderosos, por direito divino, superioridade racial, monopólio partidário ou privilégio de classe.
A luta pela institucionalização do poder vai avançando não somente no Estado, mas nas expressões da Sociedade Civil, como os partidos, sindicatos, associações e ONG’s. O personalismo ainda existe (e muito), mas vem sendo questionado, combatido, denunciado (pela imprensa ou pelo Ministério Público) como algo ilegítimo.
Com muitas igrejas protestantes vai acontecendo o contrário, o personalismo é legitimado por um apelo ao sagrado em relação ao “ungido”. Toda tentativa de desmoralização das instituições, das denominações, dos estatutos denominacionais, da rotatividade do poder emanado de deliberações coletivas, em fóruns adequados, somente leva ao reforço do personalismo, um retorno à monarquia absoluta e ao feudalismo religioso.
As glórias de um passado progressista vão sendo ofuscadas por um presente obscurantista.
Cabe às denominações históricas enfrentar essa luta externa e interna, reafirmando os seus postulados e o fortalecimento das instituições, para o bem não só da Igreja, mas do conjunto do Estado, da Nação e da Sociedade Civil.
O caciquismo é obra diabólica. Exorcizemo-lo!

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