Administrar o tempo é planejar a vida
Geralmente quem escreve sobre
administração do tempo não o faz porque seja especialista na questão, mas, sim,
porque quer aprender mais sobre o assunto. Pelo menos foi esse o meu caso. Vou
relatar aqui algumas de minhas descobertas, como roteiro para a leitura do
quarto texto.
1) Administrar o tempo não é
uma questão de ficar contando os minutos dedicados a cada atividade: é uma
questão de saber definir prioridades. Provavelmente (numa sociedade complexa
como a nossa), NUNCA vamos ter tempo para fazer tudo o que precisamos e
desejamos fazer. Saber administrar o tempo é ter clareza cristalina sobre o
que, para nós, é mais prioritário, dentre as várias coisas que precisamos e
desejamos fazer - e tomar providências para que essas coisas mais prioritárias
sejam feitas, sabendo que as outras provavelmente nunca vão ser feitas (mas
tudo bem: elas não são prioritárias).
2) Dentre as coisas que vamos
listar como prioritárias, algumas estarão ali porque nos são importantes,
outras porque são urgentes. Imagino que algo que não é NEM importante NEM
urgente não estará na lista de ninguém. E também sei que na lista de todo mundo
haverá coisas que são IMPORTANTES E URGENTES. Não resta a menor dúvida de que
estas coisas devem ser feitas imediatamente, ou, pelo menos, na primeira
oportunidade. Poucas pessoas questionarão isso. O problema surge com coisas que
consideramos importantes, mas não urgentes, e com coisas que são urgentes, mas
às quais não damos muita importância.
3) Digamos que você considere
importante ficar mais tempo com sua família. Por outro lado, você tem que
trabalhar x horas por dia. Se o seu trabalho é mais importante do que ficar com
a sua família, o problema está resolvido: você trabalha, mesmo que isso
prejudique a convivência familiar. Mas e se o trabalho não é mais importante
para você do que a convivência familiar? Neste caso, provavelmente o trabalho é
urgente, no sentido de que tem que ser feito, pois doutra forma você vai ser
despedido (ou perder clientes, se for autônomo ou empresário) e vai ter
dificuldades para manter sua família (embora, sem trabalho, provavelmente vai
poder passar mais tempo com ela…). Aqui o conflito é entre o importante e o
urgente - e é aí que a maior parte de nós se perde, e por uma razão muito
simples: algumas das tarefas que temos que realizar não são selecionadas por
nós, mas nos são impostas. Isto é: não somos donos de todo o nosso tempo. Não
temos, em relação ao nosso tempo, toda a autonomia que gostaríamos de ter.
Quando aceitamos um emprego, estamos, na realidade, nos comprometendo a ceder a
outrem o nosso tempo (e, também, o nosso esforço, a nossa capacidade, o nosso
conhecimento, etc.). Este é um problema real e de solução difícil: não somos
donos de boa parte de nosso tempo.
4) Acontece, porém, que
geralmente usamos mal o tempo que dedicamos ao trabalho (e, por isso, temos que
fazer hora extra ou trazemos trabalho para casa), ou mesmo o tempo que passamos
em casa. Usar mal QUER DIZER que muitas vezes usamos o nosso tempo para fazer o
que não é nem importante nem urgente, mas apenas algo que sempre fizemos, pela
força do hábito. Alguém me disse, quando eu era criança, que a gente nunca
deveria abandonar a leitura de um livro, por pior que ele fosse. Que bobagem!
Mas quanto tempo desperdicei terminando de ler coisa que de nada me serviu por
causa desse conselho! Uma vez me peguei dizendo à minha família que não poderia
fazer algo (não me lembro o quê) domingo de manhã porque precisava ler os
jornais. Eu lia, religiosamente, a Folha e o Estado aos domingos de manhã
(sinto muito, folks: há tempo que não freqüento escola dominical). Lia por
hábito. Achava que um professor tem que se manter informado. Mas quando disse
que "precisava" ler os jornais me dei conta de que realmente não
precisava lê-los. O que é de pior que poderia me acontecer se eu não lesse os
jornais, me perguntei. NADA, foi a resposta que tive honestamente que dar. Se
houver algo importante nos jornais provavelmente fico sabendo no noticiário da
TV, ou na VEJA. Mas daí me perguntei: e preciso ler a VEJA todas as semanas?
Resposta: não. Existe algo que eu prefiro ler/fazer naquelas manhãs de domingo
que ganhei? Claro, muitas coisas - PARA AS QUAIS EU ANTES NÃO TINHA TEMPO.
Ganhei as horas dos jornais, ganhei as horas da VEJA, fui ganhando uma horinha
aqui outra ali, para as coisas que eu realmente queria fazer há muito tempo e
não achava tempo…
5) Administrar o tempo é
ganhar autonomia sobre a sua vida, não é ficar escravo do relógio. É uma
batalha constante, que tem que ser ganha todo dia. Se você quer ter a autonomia
de decidir passar mais tempo com a família, ou sem fazer nada, você tem que
ganhar esse tempo deixando de fazer outras coisas que são menos importantes
para você. Em última instância pode ser que você até tenha que, eventualmente,
arrumar um outro emprego ou uma outra ocupação.
6) O tempo é distribuído
entre as pessoas de forma bem mais democrática que muitos dos outros recursos
de que nós dependemos (como, por exemplo, a inteligência). Todos os dias cada
um de nós recebe exatamente 24 horas (a menos que seja o último dia de nossas
vidas): nem mais, nem menos. Rico não recebe mais do que pobre, professor
universitário não recebe mais do que analfabeto, executivo não recebe mais do
que operário. Entretanto, apesar desse igualitarismo, uns conseguem realizar
uma grande quantidade de coisas num dia - outros, ao final do dia, têm o
sentimento de que o dia acabou e não fizeram nada. A diferença é que os
primeiros percebem que o tempo, apesar de democraticamente distribuído, é um
recurso altamente perecível. Um dia perdido hoje (perdido no sentido de que não
realizei nele o que precisaria ou desejaria realizar) não é recuperado depois:
é perdido para sempre.
7) Há os que afirmam, hoje,
que o recurso mais escasso na nossa sociedade não é dinheiro, não são matérias
primas, não é energia, não é nem mesmo inteligência: é tempo. Mas tempo se
ganha, ou se faz, deixando de fazer coisas que não são nem importantes nem
urgentes e sabendo priorizar aquelas que são importantes e/ou urgentes.
8) Quem tem tempo não é quem
não faz nada: é quem consegue administrar o tempo que tem de modo a poder fazer
aquilo que quer.
9) Por outro lado, ser
produtivo não é equivalente a estar ocupado. Há muitas pessoas que estão o
tempo todo ocupadas exatamente porque são improdutivas - não sabem onde
concentrar seus esforços e, por isso, ciscam aqui, ciscam ali, mas nunca
produzem nada. Ser produtivo é, em primeiro lugar, saber administrar o tempo,
ter sentido de direção, saber aonde se vai.
10) Administrar o tempo, em
última instância, é planejar estrategicamente a nossa vida. Para isso,
precisamos, em primeiro lugar, saber aonde queremos chegar (definição de
objetivos). Onde quero estar, o que quero ser, daqui a 5, 10, 25, 50 anos? O
segundo passo é começar a estrategiar: transformar objetivos em metas (com
prazos e quantificações) e decidir, em linhas gerais, como as metas serão
alcançadas. O terceiro passo é criar planos táticos: explorar as alternativas
específicas disponíveis para se chegar aonde queremos chegar, escolher fontes
de financiamento (emprego, em geral, é fonte de financiamento), etc. Em quarto
lugar, fazer o que tem que ser feito. Durante todo o processo, precisamos estar
constantemente avaliando os meios que estamos usando, para verificar se estão
nos levando mais perto de onde queremos vamos querer estar ao final do
processo. Se não, troquemos de meios (procuremos outro emprego, por exemplo).
11) Mas tudo começa com uma
verdade tão simples que parece uma platitude: se você não sabe aonde quer
chegar, provavelmente nunca vai chegar lá - por mais tempo que tenha.
12) Quando o nosso tempo
termina, acaba a nossa vida. Não há maneira de obter mais. Por isso, tempo é
vida. Quem administra o tempo ganha vida, mesmo vivendo o mesmo tempo.
Prolongar a duração de nossa vida não é algo sobre o qual tenhamos muito
controle. Aumentar a nossa vida ganhando tempo dentro da duração que ela tem é
algo, porém, que está ao alcance de todos. Basta um pouco de esforço e determinação.
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